Normalmente planejamos ter filhos, mas nunca planejamos gemelares. A
gestação múltipla foge ao controle, mesmo quando há uma predisposição genética
ou tratamentos para infertilidade.
Algumas vezes até sonhamos com isso e, em outras, ficamos desesperados só
em pensar nessa possibilidade.
De qualquer forma, toda a estrutura e planejamento familiar podem ser
profundamente alterados com a vinda de mais um filho, de uma só vez. Muda-se a
organização do espaço físico da casa, o orçamento doméstico, planos
profissionais, etc.
Atualmente, pela facilidade do ultra-som , sabemos desde o primeiro
trimestre quando esperamos mais de um bebê. Passada a surpresa e o susto inicial
, a família ainda tem bastante tempo para poder se reorganizar antes da chegada
dos recém-nascidos.
Do ponto de vista obstétrico, a gestação múltipla sempre requer alguns
cuidados especiais, um acompanhamento mais cuidadoso da gestante e do
desenvolvimento dos bebês. E, assim mesmo, o índice de nascimentos prematuros
ainda é muito grande e muitas vezes com diferenças de peso entre os bebês e
necessitando de cuidados especiais, gerando outro tipo de estresse emocional e
financeiro para toda a família.
Normalmente, após o nascimento de um filho, levamos algum tempo para que
comecemos a conhecê-lo e entender as suas necessidades. Quando precisamos fazer
isso simultaneamente com dois ou mais bebês, esse processo é ainda mais
difícil.
Algumas mães, ainda com os filhos no útero, começam um processo de
diferenciação, dizendo que um é mais inquieto ou mais dorminhoco que o outro.
Normalmente os localizam e identificam pela posição que ocupam no útero.
Inclusive, existem alguns estudos que apontam alguns paralelos entre bebês
gemelares no pós-parto: o que estava melhor acomodado na barriga é o mais
tranqüilo, suga melhor, e o que estava espremido no cantinho está sugando pouco,
é irritadiço, chora mais e só se acalma quando vai para o colo.
Perceber as diferenças entre os filhos desde o útero pode ser algo muito
útil no sentido de se diferenciar a individualidade de cada bebê, mas por outro
pode ser extremamente negativo, se a família começa , a partir das diferenças,
fazer as comparações entre os gêmeos, em que um supostamente é melhor ou se
comporta melhor do que o outro.
Quando existem outros filhos também pode haver um período crítico, já que
os filhos podem sentirem-se "invadidos" por um batalhão de bebês, e morrem de
medo de perderem o amor e a atenção dos pais, coisa que pode ser minimizada
quando os pais conseguem dividir igualmente a atenção.
A chegada dessa "turminha" acaba gerando trabalho extra para todos e o pai
costuma ter mais oportunidade de participar ativamente da divisão de trabalho
com os bebês, já que para a mulher é muito mais difícil tomar conta de tudo
quando os filhos são gemelares.
Também amamentar mais de um bebê exige uma dose extra de disponibilidade.
É perfeitamente possível amamentar mais de um bebê, já que quanto mais eles
mamam , maior a produção do leite. Portanto, leite não faltará.
Algumas dicas funcionam bem:
- colocar os 2 bebês simultaneamente ao seio e cantar para eles enquanto mamam;
- amamentar um de cada vez e aproveitar para conversar com ele individualmente;
- amamentar primeiro quem acordou primeiro... na realidade, o que vale é o bom senso e o conforto da mamãe. Aos poucos vai ficando claro qual a melhor forma.
Existem,ainda, algumas mamães - especialmente com trigêmeos - que preferem
alternar com o peito e a mamadeira. De qualquer maneira, quando a mulher tem
gêmeos precisa de muita ajuda para cuidar de todo o resto: limpeza da casa e das
roupas, fazer as refeições, dar banho e trocar as fraldas dos bebês, etc. Ela
precisa descansar, dormir e alimentar-se bem, pois caso contrário, dificilmente
a amamentação dará certo.
Durante o primeiro ano de vida começam as descobertas dos gêmeos: brincam
muito entre si, descobrem o próprio corpo e o corpo do irmão... é a
possibilidade de ter um espelho permanentemente à sua disposição. Mas não
podemos esquecer que as semelhanças , quando existem, são somente físicas. Já a
personalidade de cada um é diferente, bem como suas necessidades e interesses
pessoais.
Os gêmeos são um para o outro, um forte modelo de identificação. Algumas
vezes desenvolvem uma linguagem própria, só inteligível para os demais. Como
estão na mesma etapa de desenvolvimento, podem precisar de mais estímulos
diários para seu progresso, ao contrário do que acontece quando os modelos de
identificação são adultos ou irmãos mais velhos.
A família tem diante de si a complexa tarefa de recolher as semelhanças e
perceber as diferenças não só entre os gêmeos idênticos, como também entre os
fraternos.
Ainda existem famílias que encaram os gêmeos como uma unidade; veste-os
com roupas iguais, dão os mesmos brinquedos para ambos e evitam
particularizá-los. Outras, felizmente, buscam a singularidade de cada um, em
termos de referência, atividades e características. Percebem que seus filhos são
diferentes, embora saídos do mesmo pai e da mesma mãe e tendo dividido o mesmo
espaço na barriga, e olham para eles como seres individuais, entendendo suas
necessidades, valorizando suas qualidades e respeitando seus
limites.
Afinal, filho é só filho, não a extensão de nós mesmos. Ter filhos gêmeos
é a possibilidade de aprender a ser menos egoísta, de estar mais disponível e de
respeitar o desejo do outro.
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